Sportinguismo Engavetado

Apercebi-me hoje que não ouvia a expressão “Há mas estão/são verdes” há imenso tempo. Li inclusive a frase num tweet em contexto de piada e não percebi. Quando ouvi alguém dizê-la em voz alta, it clicked. Aquela expressão, para mim, situa-se no domínio do puramente auditivo: ouvi o meu avô dizê-la muitas vezes, muito antes de saber sequer ler e confesso que até hoje acho que nunca tinha visto a frase escrita. A expressão transcende-se a si própria, assumindo a função de máquina do tempo e eu recuo instantâneamente a todas as banalidades amplificadas por nostalgia que caracterizam a minha infância: o bacalhau-à-brás, as sopas de letras, os gelados no café do Ferrari (que o meu avô comia à dentada), os episódios diários do Quem-Quer-Ganha e de outros 760s, a volta-à-frança.

Talvez o que una os sportinguistas da geração do “nunca vi o Sporting campeão” e do “não me lembro dos tempos em que o Sporting foi campeão” ainda mais do que essas categorias, são as memórias das pessoas que gostariam de ter visto o Sporting campeão outra vez mas que já não foram a tempo. Todos esses sportinguistas se lembraram de alguém ontem à noite. E eu, apesar do meu sportinguismo engavetado desde 2014, lembrei-me do meu avô, a única razão pela qual sou sportinguista e pensei que ele gostaria de ter visto isto.